sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sobre Dilma, o MST e o ‘rebolation’


JORNAL DO BRASIL: Por Cristian Klein

O clima de campanha realmente já começou. E para o comportamento dos presidenciáveis haverá sempre a interpretação sobre aonde eles querem chegar, que intenções estão por trás desta ou daquela atitude. Num mesmo dia, a última terça-feira, a pré-candidata do governo, Dilma Rousseff, deu duas declarações curiosas. Dois sinais interessantes.

O primeiro: Dilma, em entrevista a uma rádio pernambucana, ao ser questionada se vestiria a camisa e o boné do MST, tal como já fez o presidente Lula, disse que não. “Acho que não é cabível vestir o boné do MST. Governo é governo, movimento é movimento. Não concordo que alguém do governo assuma a bandeira do MST”, afirmou.

O segundo: num jantar oferecido a ela pelo deputado federal Eunício Oliveira (PMDB-CE), com a participação de vários políticos aliados, Dilma, cuja fama é de sisudez, soltou-se nas brincadeiras, e chegou até a fazer um galanteio ao deputado Fábio Faria (PMN-RN), dizendo que a namorada dele “tem muito bom gosto”. Faria vem a ser o namorado de Sabrina Sato, ex-modelo, ex-BBB e repórter aloprada do programa humorístico Pânico na TV. Atualmente, Sabrina está no encalço de Dilma e de José Serra para ver qual dos presidenciáveis executa primeiro os passos do rebolation, dança que se tornou o hit do Carnaval deste ano. Dilma aproveitou o encontro com o deputado e pediu a ele para avisar à namorada que aceitará dançar o rebolation depois da campanha.

Mas o que esses dois momentos de Dilma, o do boné do MST e o do rebolation, aparentemente sem nenhuma conexão, teriam em comum? A resposta é simples: Lula. Tanto em um, quanto em outro, é a sombra do presidente que está por trás do comportamento da ex-ministra. Nos dois episódios, Dilma mostra a dupla missão que enfrenta como candidata. Precisa se diferenciar e, ao mesmo tempo, se aproximar do estilo de Lula. Precisa provar que tem ideias próprias (não usaria o boné do MST como o padrinho). E precisa emular o estilo carismático, popular do presidente (quando age com descontração, ao lisonjear a beleza de um deputado e indicar que é capaz até de “pagar um mico” e dançar os passos da moda).

Para isso, para desmontar a pecha de séria, sisuda, Dilma conta com o convívio e o incentivo do próprio Lula. Quando não de um empurrão “muy amigo” do presidente. Numa incursão do Pânico na TV atrás da petista, durante encontro do PCdoB para apoiar a pré-candidata, Lula, ao avistar a equipe do programa, puxou Dilma pelo braço e levou-a até a beira do palco onde estavam, para ser “entrevistada” por Sabrina Sato, que foi direto ao ponto e pediu para a ex-ministra pagar a prenda. Dilma recusou, mas de modo sorridente. O episódio pode parecer banal, mas mostra como Lula funciona, no dia a dia, como um professor de traquejos políticos, a ponto de jogar sua candidata numa saia-justa, para que ela aprenda a fazer campanha e cultivar uma imagem favorável.

Em contraste, José Serra, também procurado pelo programa, durante o lançamento de sua pré-candidatura, saiu em disparada, em passos apressados, esquivando-se da abordagem, fisionomia fechada, deixando para trás uma confusão entre seguranças e jornalistas.

Um presidenciável, obviamente, não é obrigado a ceder a todos os apelos para divulgar sua imagem na grande massa. Mas simpatia e cordialidade contam. Numa disputa tão acirrada como a que se espera, podem fazer diferença na decisão do eleitor.

O carisma, uma das três fontes de legitimação do poder segundo Weber, é importante trunfo para qualquer político, ainda que não seja tudo, dependendo das circunstâncias. Um exemplo é a campanha do ex-presidente Néstor Kirchner à Presidência da Argentina, em 2003. Com o país em crise e tendo um candidato conhecido pela carranca, pelo mau-humor, os marqueteiros de Kirchner inverteram a situação. Admitiram que ele era, de fato, sério, sem sal, e nos spots na TV alternavam imagens dos adversários sorridentes e cenas de miséria, perguntando ao final: “Do que eles estão rindo?”. Fizeram do limão uma limonada. De um jeito ou de outro, campanha é sempre rebolation para os políticos.

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